É frequente o relato de que poderia estar fazendo mais. Seja no trabalho, nos estudos ou mesmo nas relações e afazeres de casa. Há uma demanda compartilhada de que sempre é possível entregar mais, ter uma performance ainda melhor e fazer ainda mais coisas. Como você é afetado por sua autocobrança?

A cobrança nem precisa vir de fontes externas. Ela pode já ter sido introjetada: surge, cresce, toma espaço, faz barulho. Pode gerar culpa e cansaço. Culpa por não fazer o que se acredita que deveria estar fazendo. Cansaço porque é impossível atingir tudo que é demandado. 

Essa pressão constante pela superação tem uma relação direta com as doenças de ordem psíquica tão presentes na sociedade contemporânea. Doenças como a depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout podem surgir do excesso de responsabilização do indivíduo que sente a necessidade de se adequar para reagir e se comportar de uma determinada forma. 

A autocobrança é um hábito cada vez mais presente. Pelo medo da cobrança do outro, já a fazemos por nós mesmos.

Produtividade tóxica

Byung-Chul Han em Sociedade do Cansaço (2010) fala desse disciplinamento que é internalizado e que vem de um modelo neoliberal de produtividade tóxica. Esse padrão tende a colocar o desempenho como principal referência de todas as atividades da vida. 

Passamos a ser medidos apenas pela performance e capacidade constante de entregar e fazer e o principal marcador disso é a busca pelo atingimento de metas irreais, objetivos que não se conectam com as possibilidades do contexto. Sem consciência deste processo, você se torna seu próprio chefe em todas as áreas da sua vida. Um chefe autoritário e inflexível que cobra mais e mais e perpetua uma forma de violência psíquica. 

O problema não está em ter responsabilidades e tomar a iniciativa, mas sim em se cobrar excessivamente. Muito pouco está sob nosso controle e se autorresponsabilizar o tempo todo é adoecedor. Se você é seu próprio chefe, que tipo de chefe você tem sido?