No Brasil, as mulheres estudam mais, ocupam menos cargos de prestígio no trabalho, dedicam mais horas para os serviços domésticos e realizam a maior parte do trabalho de cuidado não remunerado. Há uma carga imensa com jornadas infinitas destinadas às mulheres em diversas esferas da vida. Ainda assim, têm poucas chances para ascender profissionalmente no mercado de trabalho e equiparar salários com homens. Proponho hoje então uma reflexão sobre o fenômeno da solidão das mulheres nesta sociedade.

Poderia me estender por horas, mas esse texto não é focado em explorar os desafios que as mulheres enfrentam para terem melhores oportunidades. Queria falar sobre as consequências que lidar com tantos deles ao mesmo tempo traz. 

Constantemente chegam relatos sobre a sobrecarga que é acumular todo o trabalho acadêmico, profissional, doméstico e de cuidado com as pessoas dentro das relações familiares e afetivas. É adoecedor se manter sempre nessa posição de poder. É frequente também o pedido de ajuda para um cuidado que significa tornar-se mais resiliente a estes desafios para suportar mais. Questiono: será que uma resposta possível para estas mulheres é poder sempre mais?

Há uma enorme solidão em se sentir constantemente responsável por dar conta da própria vida e manter tudo ao redor em ordem e em pleno funcionamento, porque condiciona a uma ideia de fazer tudo sem ajuda. É sempre sobre como EU preciso tomar a iniciativa, planejar, cuidar da casa e dos filhos, ser bem-sucedida, salvar meu casamento e ter toda a compreensão do mundo com esse parceiro que vive comigo e não consegue acessar as próprias emoções. 

Por trás de “homens” prósperos, há quase sempre uma “mulher” que oferece todo suporte para que não haja preocupações. Não só em momentos de crises, mas principalmente no cotidiano. Quantas mulheres você conhece que possuem toda essa ajuda, que dispõem de todos os recursos? Que tem o apoio necessário para focar plenamente em se sobressair na carreira, na pesquisa acadêmica e lutar para ocupar os espaços que a muito são destinados aos homens?

A solidão das mulheres é um fenômeno coletivo que aparece de maneiras e contextos distintos. É urgente a necessidade de questionar como cuidamos uns dos outros e estabelecer diálogos honestos para equilibrar a balança das responsabilidades nas relações, tanto familiares quanto instituicionais. Qual o custo, para a saúde de mulheres, de dar conta de tudo?