Em 9 de dezembro, participei do encontro do Instituto de Psicologia Gestalt em Figura com uma fala em prol de uma maior consciência da norma pelo terapeuta sobre como se percebe e se é percebido no setting terapêutico. Isso inclui determinadas construções sociais entendidas como posições de opressão e privilégio como branquitude, cisgeneridade e heterossexualidade compulsórias, entre outras diferenças socialmente marcadas.
A relação terapêutica pode ser impactada por uma potencial confluência de terapeutas com sistemas sociais de opressão e privilégio que podem acarretar na (re)produção de abusos e violências. Isso ocorre porque todos nós somos frequentemente nutridos pelo contato com o outro, o que inclui estruturas institucionais e normas neurotizantes que nem sempre se manifestam de maneira óbvia.
A psicologia positivista, tal como foi concebida no século XIX, é uma instituição normativa, que define que tipo de comportamentos são socialmente aceitáveis e quais são patologizáveis. Isso ocorre com a homossexualidade, retirada da Classifificação Internacional de Doenças em 1990, e com a transsexualidade, retirada em 2018. Esta patologização ocorre a partir de visões de mundo supostamente neutras, mas que são baseadas no capitalismo, no colonialismo, no racismo e outros sistemas opressivos.
A proposta da Gestalt-terapia é romper com esta psicologia para fundar uma nova a partir de uma atitude fenomenológica, que acolhe a diversidade como recurso. Assim, é possível desenvolver uma consciência da reprodução de certas normas sociais a fim de evitar situações de violência e abuso entre terapeuta e consulente.
Esse movimento passa não somente pelo aprendizado teórico, pela supervisão e pela terapia, mas também por assumir a responsabilidade, como pessoa psicoterapeuta, de reconhecer as introjeções dos marcadores sociais da diferença e estar consciente disso na relação terapêutica.
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