Psicóloga Simone Villas Bôas Saraiva

psicóloga, gestalt-terapeuta

CRP 06/177991

Mito do amor romântico

Hoje, quero trazer a minha visão do mito do amor romântico. Essa ideia que só existe uma única alma gêmea te esperando por aí, de que há essa única pessoa que precisa ser encontrada para se passar o resto dos dias no maior estilo “felizes para sempre”, e, caso esse amor dê errado, é isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte.

Isso me faz lembrar dessa história de que este mito surge no século XIX, quando os grandes poetas românticos da vida boêmia adoeciam e morriam antes dos 25 anos. Deve ser por isso que falaram tanto desse grande e trágico amor: só havia tempo para realmente viver uma única história assim.

Só que hoje temos uma vida que é muito diferente, com mais expectativa de vida e, com isso, emergem diversas outras possibilidades. O ciclo de vida é mais extenso e desafiador. Se as questões contemporâneas são diferentes, as perspectivas devem ser também.

Ao longo da vida, nossos objetivos vão mudando, assim como os desafios que encontramos à frente. Esse movimento vai nos acompanhar até mesmo na forma que nos conectamos amorosamente. Podemos ter encontros importantes com mais de uma pessoa, porque a vida é feita de momentos diferentes.

O desafio dos relacionamentos amorosos na psicoterapia

Minha principal quebra com esse mito do amor idealizado é acreditar que para um relacionamento dar certo não importa somente a química e o encontro de almas apaixonadas, mas que os objetivos estejam alinhados, que haja uma disponibilidade mútua para aquela relação.

Um grande desafio na minha clínica é entender com o consulente essa disponibilidade para estar em uma relação afetiva sexual. Só esse questionamento abre muitas portas, desde a visão generalista das normas sociais para o amor ao que foi aprendido sobre ele desde os primeiros contatos. Nós absorvemos muito do ambiente, seja para querer algo nos moldes que vivemos ou para buscar algo radicalmente diferente.

Mito da metade da laranja

E por acharmos que é necessário estar nessa busca eterna pela metade da laranja, fica muito difícil acessar o que se deseja de fato, o que sobra depois de tirar as barreiras do que é socialmente aceito. Nem sempre o foco do momento é ter um relacionamento e está tudo bem escolher coisas diferentes.

A forma como vivenciamos o amor a partir das experiências com o outro e com o mundo também devem ser levadas para a terapia, que pode ajudar a identificar para onde aponta o seu desejo hoje e a partir daí construir um caminho que ofereça a plenitude de amar quando e do jeito que se quiser amar.

Referências:
PINHO, Miriam Ximenes. “A morte da amada”: do luto romântico ou da morte como bom encontro. Stylus (Rio J.),  Rio de Janeiro, n. 32, p. 53-64, jun. 2016. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-157X2016000100006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 06 out. 2023.



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Simone Villas Bôas Saraiva

Simone Villas Bôas Saraiva

CRP 06/177991
Psicóloga clínica, gestalt-terapeuta, especialista em gênero e sexualidade. Psicoterapeuta com experiência clínica com demandas de estresse, ansiedade e depressão.


Categorias