Dentre os muitos mitos do processo terapêutico que refletimos por aqui, hoje quero falar de dois deles. O primeiro é a expectativa social de que evoluímos de maneira linear. O segundo é sobre o a possibilidade de o percurso de desenvolvimento ser visível. Várias atividades da vida humana seguem esse curso. É máxima de que é preciso estar em contínuo crescimento, sempre em movimento.
No entanto, a ideia de estar crescendo e melhorando progressivamente o tempo todo não é sustentável na saúde mental. Acreditar nisso pode gerar frustração, sem se permitir ver a mudança. É a frequente a descrição sobre se sentir sempre empacado, andando em círculos. Cada um tem uma forma de encarar o seu processo, de acordo com as vivências e noções de mundo próprias.
A sensação de um dia acordar bem e outro acordar mal é um marcador de como o ambiente também nos dá estímulos diferentes. O clima muda. As condições econômicas variam. Os problemas passam a ser outros. As relações se reconfiguram. Todo esse contexto nos coloca em novos desafios que impactam diretamente o ser e o sentir. Muitas vezes, o desenvolvimento envolve até dar um passo atrás e revisitar antigos padrões com um olhar diferente. Proponho experienciar outras formas de se estar na situação.
Nenhum processo terapêutico é linear. Não é uma evolução constante e não tem como ser. O mundo não nos oferece apenas estímulos que seguem para uma única direção, boa ou ruim. Não existe processo lento ou sem resultados. O que há é o tempo e caminho a ser percorrido. Respeita-se as curvas, os percalços, os pontos baixos e altos que cada experiência proporciona.
Por ora, lembre-se de aproveitar o percurso.
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