A Gestalt-terapia é uma abordagem que promove a conscientização ampla do indivíduo sobre seu modo de ser e agir no mundo. É uma abordagem de base fenomenológica-existencialista, que considera o contexto sócio-histórico onde estão inseridos tanto consulente quanto psicoterapeuta e que valoriza a experiência vivida em oposição a intepretações teórico-normativas (BELMINO, 2020).
Simplificando: não é papel do Gestalt-terapeuta ouvir o relato e, ao final, trazer uma interpretação do que foi dito. A psicoterapia é uma parceria, é um fazer junto. Considera-se que tanto psicólogo quanto cliente são pessoas que possuem uma história e que o processo terapêutico se desenvolve a partir daí.
“Da ênfase estrita ao processo de awareness passou-se à ênfase no contato, e depois a ênfase na relação terapêutica. Abriu-se o espaço para um genuíno diálogo Eu-Tu. Transitamos amplamente, experimentando a polaridade terapeuta-cliente. De uma arrogante terapia centrada no cliente (afinal, é ele o doente), passamos a uma narcísica terapia centrada no terapeuta (que experimento criativo que eu inventei!) a um humilde estar com (vamos ver o que nós conseguimos clarear em conjunto…).”
Jean Clark Juliano
Para a Gestalt-terapia, somos formados a partir das relações que construímos. Não há uma realidade que só existe dentro de cada um, única e inacessível. Somos fruto da relações com familiares, amigos, amantes e também com as instituições como a escola, a empresa, a religião. Por isso, a relação terapêutica é tão valiosa para o Gestalt-terapeuta. A própria relação construída nos encontros pode trazer boas descrições para compreender como a pessoa se relaciona no dia a dia em outros contextos.
Com as contribuições da teoria do campo de Kurt Lewin e da teoria organísmica de Kurt Goldstein para a Gestalt-terapia, é possível afirmar que cada organismo está em contínuo contato com o ambiente para saciar suas necessidades fisiológicas, de segurança, de afeto, de estima ou de autorrealização. Desta maneira, cada organismo é indissociável de seu ambiente (SCHILLINGS, 2014).

Poder fluir
Talvez o objetivo maior da Gestalt-terapia seja identificar ou construir juntos recursos para que a vida do consulente possa fluir e para que ele alcance autonomia. Fluir aqui significa identificar os desafios que a vida proporciona e estar consciente do que se quer fazer diante deles. Para tal, é necessário estar no aqui-e-agora: perceber claramente que desafios estão à diante, sem ser atrapalhado pelas experiências passadas ou ansiedades sobre o futuro.
Para tal, é necessário verificar como os obstáculos são descritos, mais do que o conteúdo dos obstáculos ou porque estes obstáculos surgiram. A partir desta descrição, os recursos necessários para alcançar os objetivos de vida são identificados ou construídos.
Outras referências
A Gestalt-terapia não é constituída de uma teoria e sim de um conjunto delas como o holismo de Jan Smuts, a teoria geral dos sistemas de Ludwig von Bertalanffy, entre outras.
Mais recentemente, muitos Gestalt-terapeutas estão teorizando a inclusão de questões contemporâneas como o cuidado no modo capitalista-neocolonial. Tem ficado cada vez mais claro que não há uma Gestalt-terapia sem compreender intersecções com raça, gênero, orientação sexual, entre outros marcadores sociais da diferença.
Referências
BELMINO, Marcus Cézar de Borba. Gestalt-terapia e experiência de campo: dos fundamentos à prática clínica. Jundiaí: Paco, 2020.
PERLS, Frederick Salomon; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN; Paul. Gestalt-terapia. 3ª edição. São Paulo: Summus, 1997.
SCHILLINGS, Angela. Concepção de neurose em Gestalt-terapia. In: FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajima (org.). Gestalt-terapia: conceitos fundamentais. São Paulo: Summus, 2014. p. 193-215.
Leia também
Entre a figura e o fundo: o que é Gestalt-terapia?, por Lilian Meyer Frazão.
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