Psicóloga Simone Villas Bôas Saraiva

psicóloga, gestalt-terapeuta

CRP 06/177991

Por uma sociedade livre de manicômios

Dia Nacional da Luta Antimanicomial

“Para que não se esqueça, para que não mais aconteça, por uma sociedade sem manicômios!”

Franco Basaglia

O dia 18 de maio é um marcador histórico das mobilizações pelos direitos das pessoas em sofrimento mental. É tempo para advogar pelo fim da lógica manicomial. Um dia para lembrar de toda a luta de profissionais da saúde, movimentos sociais, coletivos e entidades por melhores condições de existência. Além disso, clamar por tratamento adequado a pessoas que precisam de assistência psiquiátrica. 

É também um momento oportuno para lembrarmos dos motivos pelos quais dizemos não aos manicômios. Devemos nos conscientizar de que não é algo que ficou para trás em nossa história. Ainda é um desafio no presente, principalmente, dado os últimos retrocessos no campo da saúde mental. A data é uma permanente advertência de que esse enfrentamento continua sendo necessário.

Há uma ideia da institucionalização como lógica para resolver todos os problemas que o enlouquecimento pode trazer para um indivíduo, família e comunidade. Isso se faz presente desde o primeiro manicômio aberto no Brasil. Encarcerar a dita loucura é evitar o problema ou lidar de uma maneira simplista. Talvez seja movida por interesses individuais. Encarcerar é reduzir pessoas às suas condições psiquiátricas, invisibilizando-as.

Supor que todas as complexidades de uma vida, com histórias e vivências singulares, podem ser reduzidas a um único rótulo – doente mental – é inaceitável. A institucionalização não é a melhor nem a única ferramenta para tratar questões psiquiátricas, apesar dessa ideia ser amplamente difundida. Em alguns casos de emergência, pode até ser uma opção. No entanto, não é aplicável para todos os casos, principalmente quando empregada a força, como nas internações compulsórias involuntárias.

Existem ferramentas mais eficazes e o apoio e acolhimento são peças importantes para que qualquer tratamento funcione. Retirar o indivíduo a força de sua rede de apoio, usar métodos de abstinência, segregação social e trabalho forçado não dão condições dignas para um acompanhamento e contexto de melhora adequado.

O Brasil carrega consigo marcas históricas de institucionalizações infundadas, maus-tratos, negligências, abusos de poder e mortes em instituições de tratamento psiquiátrico. Quase sempre aplicadas a minorias sociais e pessoas em situação de vulnerabilidade, causando extremo sofrimento. Isolar e ocultar o que é um problema social só serve a interesses específicos. A Saúde Mental é uma questão política, na qual muros concretos e simbólicos que encarceram a loucura servem a uma lógica perversa de exclusão. 



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Simone Villas Bôas Saraiva

Simone Villas Bôas Saraiva

CRP 06/177991
Psicóloga clínica, gestalt-terapeuta, especialista em gênero e sexualidade. Psicoterapeuta com experiência clínica com demandas de estresse, ansiedade e depressão.


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