Esse texto parte da sugestão de uma pessoa que acompanha este blog. O pedido é uma opinião sobre como tratar questões raciais na prática clínica, principalmente com uma psicóloga branca.
Há um esforço diário para que eu possa estar disponível a essas demandas. Sendo uma mulher branca cisheterossexual, devo reconhecer meus privilégios e manter uma escuta respeitosa. Não é uma escuta empática. A empatia, como sugere Djamila Ribeiro, pressupõe saber como o outro sente em uma relação com o ambiente muito diversa. A escuta respeitosa compreende que determinadas experiências não dão para “saber como é”. Não há como sentir se não foi vivenciado na pele. O que a escuta permite é uma conexão e um acolhimento.
“Fala-se muito em empatia, em colocar-se no lugar do outro, mas empatia é uma construção intelectual, ética e política”
― Djamila Ribeiro, Pequeno Manual Antirracista
Compartilhamos um ambiente extremamente tóxico que veta e subjuga pessoas por traços fenotípicos e/ou determinada ancestralidade. Oportunidades são desperdiçadas. Há sofrimento e traumas a partir desta lógica colorista e colonialista.
Estamos sempre em relação com o ambiente e não é possível se desvincular ou permanecer neutros diante do contexto sóciohistórico. Oportunidades e experiências vivenciadas são moldadas pelo contexto. O primeiro passo de qualquer pessoa psicóloga, principalmente branca, deve ser reconhecer que as possibilidades possíveis são reduzidas de acordo com o modo em que o ambiente percebe e classifica.
A prática psicoterápica precisa refletir como as demandas tidas como individuais se relacionam com o ambiente. Para a pessoa consulente, digo para trazer do jeito que é possível, da forma que for mais confortável. Sinta se é possível estabelecer essa conexão e se o acolhimento é o adequado desde o começo dos encontros. Veja como o profissional vai receber e se está preparado para lidar com essa demanda. Se não houver conforto, busque outros tipos de acolhimento, inclusive, através de indicações de psicólogos pretos.
Coloco-me à disposição para oferecer algumas indicações. O importante aqui é reconhecer que o racismo existe e acolher respeitosamente estas demandas que causam tanto sofrimento.
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