Na perspectiva fenomenológico-existencial, responsabilidade não é apenas uma obrigação moral ou social. É uma apropriação da própria existência. É o reconhecimento de que somos autores e cocriadores do nosso modo de ser‑no‑mundo.
Viver de forma autêntica implica assumir a autoria da própria existência. Sartre afirma que o ser humano está “condenado à liberdade”. Ou seja, não podemos escapar da liberdade de escolher e, com ela, da responsabilidade por esta escolhas.
“O homem está condenado a ser livre; porque uma vez lançado ao mundo, ele é responsável por tudo o que faz.”
Jean-Paul Sartre,
Nesse contexto, responsabilidade é indissociável de liberdade. Não há como ser livre sem também se responsabilizar pelas escolhas feitas — inclusive pelas não‑escolhas.
Na Gestalt-terapia, entende-se responsabilidade como a capacidade de responder às próprias necessidades e desejos no aqui-e-agora. É um movimento de resposta criativa ao ambiente, no qual deixa-se de culpar o outro, o passado ou as circunstâncias.
Laura Perls, cofundadora da abordagem gestáltica, fala em response ability: responsabilidade como habilidade de resposta. Devo responder a mim mesmo, ao outro, ao meio. Para isso, preciso estar presente e consciente nessa relação comigo mesmo e com o mundo.
Assumir versus fugir
Na clínica, a questão da responsabilidade frequentemente aparece de forma indireta. Manifesta-se em recorrências de situações de sofrimento e de impotência. O papel da terapeuta é acolher sem julgar. O terapeuta também deve promover a ampliação da awareness. A pergunta aqui é como eu mesmo participo da construção da experiência.
Responsabilidade é amadurecer
Responsabilizar-se é reconhecer e experimentar novas formas de estar nesse mundo. Inclusive se frustrando, colocando limites e expressando desejos em suas relações.
Não falamos aqui de uma exigência moral, mas um processo de amadurecimento. A clínica, nesse sentido, é um espaço de experimentação segura. Torna-se assim possível sair do lugar de objeto das circunstâncias e tornar-se sujeito da própria existência.
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