Como muita coisa na vida, o que a gente quer ao chegar na terapia é que tudo seja rápido.
Vejo que algumas demandas que chegam na clínica são lidas como simples. Principalmente as relacionadas a uma mudança de comportamento e modos de ser e fazer. Como se bastasse uma decisão, uma escolha diferente e em um estalo de dedos tudo se transforma.
Mas a verdade, na melhor das metáforas que consigo pensar, é que fazer terapia é como se preparar para uma corrida de longa distância. Você não chega na sala de um preparador físico e fala pra ele que, apesar do sedentarismo do último ano, você quer correr a São Silvestre dali uma semana. Sabemos que para fazer isso é necessário um preparo, um treinamento, uma condição física que viabilize completar o percurso. Não é só a empolgação da largada que define as coisas, mas sim o condicionamento e treinamento contínuo.
A terapia é muito como isso. Não é possível mudar comportamentos de uma vida inteira com uma decisão, pois é apenas o primeiro passo. É necessário muito treinamento, repetição e perseverança no objetivo. Não dá para querer estar mais confortável em determinadas situações, por exemplo, se não há a exposição contínua a interações sociais. Para mudar as dinâmicas das relações familiares são necessárias uma série de medidas e ações não são tomadas. Não é possível decidir que quer ser diferente e apenas é.
Desconfie de soluções rápidas
Sempre há a possibilidade de tratamentos, treinamentos e métodos para começar, sair do lugar em busca da mudança. Mas o modo de se relacionar, de ser e fazer, enraizado a tanto tempo, demandam consciência corporal e exercício contínuo de autopercepção para serem transformados.
Mudar as bases e fundamentos de quem se é significa muito trabalho. A terapia pode ajudar ter consciência do seu espaço no mundo para poder alcançar uma mudança satisfatória. Demanda um monte de energia, mas o resultado, assim como alcançar a linha de chegada, é gratificante.
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