As imagens das recentes enchentes no Rio Grande do Sul tem me atormentado nos últimos dias. Isso me fez lembrar de que um trauma pode acontecer ao se testemunhar eventos pela televisão ou por outros dispositivos de mídia. Afinal, é possível experienciar um trauma pela TV ou pelo smartphone?
Há alguns anos, fui a um evento sobre trauma no qual ouvi falar pela primeira vez deste fenômeno. Infelizmente, perdi a referência bibliográfica. No entanto, a palestrante informou sobre como o estresse pós-traumático pode ser diagnosticado naqueles que assistiram ao vivo os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque. Parece factível, pois vejo pelas minhas próprias experiências. Assisti ao vivo, ainda criança, a explosão da Challenger. Ao mesmo tempo, tantas guerras, epidemias e desastres naturais espetacularmente televisionados podem ter me desesensibilizado de alguma forma.
Não há dúvidas que a mídia profissional presta um serviço público ao informar sobre eventos extremos. Mas cada evento como este também é uma oportunidade para capturar audiência e, de alguma forma, lucrar.
Defendo aqui uma psicoeducação para a mídia. Até que ponto posso estar online e assistir cada nova atualização sobre um evento traumático? E se não houver escolha? Se eu for uma jornalista, como posso me cuidar?
Pausas são essenciais
Certos eventos podem permanecer vários dias em evidência, mas não preciso estar atenta a cada nova informação. Aliás, talvez eu não precise saber com detalhe algum. Talvez eu só precise o suficiente para agir, ser solidária, me voluntariar de alguma forma. Se assistir a tudo isso for meu trabalho, posso ainda assim me permitir pausas. Posso assistir um show de minha artista favorita sem culpa, por exemplo. Estar com quem amo e admiro são fundamentais para o autocuidado. Mas conte também com a ajuda profissional de um psicoterapeuta. Não subestime a capacidade humana de estar exposto ao sofrimento.
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