Utilizo bastante esse espaço para romper com alguns termos e jargões que encontramos por aí que acabam por trazer uma perspectiva enviesada de certos comportamentos. Hoje trago o termo autossabotagem.
Deparo com diversas demandas que chegam a partir desta visão na prática psicoterapêutica. Quase tudo que é levado para o terapeuta pode ser lido como autossabotagem. Afinal, a necessidade de buscar esse tipo de ajuda surge do não conseguir lidar, fazer ou alcançar determinado objetivo sem um acompanhamento profissional.
De não conseguir manter relacionamentos afetivos a perseguir um objetivo sem sucesso, é possível encontrar uma infinidade de maneiras de se responsabilizar em excesso. Na prática, não funciona exatamente assim.
Qualquer demanda trazida pode ser investigada a partir de um indivíduo, mas não só. É preciso compreender o que vem das relações construídas, do ambiente e até mesmo do contexto sócio-histórico. Não somos sujeitos desconectados do meio. Reagimos e interagimos com as condições e situações que nos deparamos.
As demandas de hoje não são as mesmas de um século atrás (e ainda bem!). Elas mudam de acordo com as necessidades, o estilo de vida, a forma como trabalhamos, estabelecemos conexões e nos adaptamos ao que é oferecido. Por isso, a investigação do porquê não conseguir certas coisas deve focar menos em descrever o que significa a autossabotagem e mais em traçar um caminho que leve a uma consciência do que emerge. O que se busca é o que se quer ou é algo que alguém disse que deve se querer?
Muitas vezes, o organismo só está tentando se proteger, reagindo aos estímulos da maneira que lhe é confortável. Entender o conforto é importante para verificar se há algo que precisa mudar ou não. Compreender fenomenologicamente a demanda trazida ao consultório é a chave para transformar o que incomoda, seja mudança ou acolhimento do que se é.
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